alt ago, 12 2025

Corinthians destitui Augusto Melo com votação histórica em meio à crise do Caso VaideBet

No Parque São Jorge, o clima foi de tensão desde cedo. Não era jogo, mas parecia final: filas longas, debates acalorados e o nome de Augusto Melo ecoando pelos corredores do clube. No último 9 de agosto de 2025, os sócios compareceram em peso para decidir o futuro do então presidente. Foram 2.037 presentes, mas só 2.033 votos válidos – e 1.413 deles disseram "sim" ao impeachment. O resultado não deixou margem para dúvidas: 69,59% dos votantes selaram o destino de Melo, afastando-o em definitivo após pouco mais de um ano de mandato conturbado.

A assembleia extraordinária foi a consequência de meses de investigações e denúncias sérias. O estopim? O escândalo do patrocínio com a VaideBet, firmado em janeiro de 2024 e anunciado como o maior acordo da história do clube, envolvendo R$370 milhões. Só que aquela parceria que parecia histórica acabou manchando a imagem do Corinthians e explodindo em crise política sem precedentes.

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As investigações descobriram um esquema de repasses mensais de R$700 mil para a empresa Rede Social Media Design Ltda – que só existia no papel e tinha ligação direta com Alex Cassundé, intermediário do contrato. O dinheiro, ao invés de impulsionar o marketing do clube, sumia em transações obscuras e atravessava contas de empresas que, segundo a polícia, operavam para lavar dinheiro do PCC, a maior organização criminosa do país.

O caso virou manchete nacional e fez o Ministério Público de São Paulo denunciar Augusto Melo, o ex-diretor administrativo Marcelo Mariano, o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura e o empresário Cassundé. Os autos apontam lavagem de dinheiro, associação criminosa e até furto qualificado. Os promotores foram diretos: mais de R$1 milhão circulando por empresas fantasmas, tudo para esconder a origem ilícita dos valores vindos do Corinthians.

Para piorar, meses depois, a VaideBet rompeu a parceria, alegando violação da cláusula anticorrupção. A rescisão agravou a situação financeira do clube, que fechou 2024 com auditoria rejeitando o balanço e dívida superior a R$2,5 bilhões. O cenário ficou ainda mais dramático com a debandada de diretores e a renúncia do principal nome das finanças, Rozallah Santoro.

Melo já estava afastado desde maio, mas ainda tentava retomar o posto. Pela regra, só votaram sócios maiores de 18 anos, com pelo menos cinco anos de casa e mensalidades em dia. Mesmo assim, houve críticas sobre mobilização de torcedores, pressão política e denúncias de irregularidades no processo. Descontente, Augusto Melo anunciou que vai recorrer à Justiça para tentar reverter o impeachment.

No comando do clube agora está Osmar Stabile, o vice-presidente, que assumiu de forma interina. O próximo presidente será escolhido em eleição indireta, disputada apenas entre conselheiros, e terá um mandato-tampão até o fim de 2026, tempo que restava ao presidente deposto. Romeu Tuma Júnior, presidente do Conselho Deliberativo, marcou nova eleição para breve, e nos bastidores já começam as articulações por alianças.

Augusto Melo chegou ao poder em 2023 prometendo moralizar a gestão e colocar fim à longa hegemonia de 16 anos do grupo Renovação e Transparência. Venceu as eleições com discurso de mudança, mas sai pela porta dos fundos, tendo como único feito relevante o título do Paulistão de 2025. O episódio abre um novo capítulo na história do Corinthians, trazendo questionamentos sobre governança, transparência e os riscos das parcerias no futebol moderno.